Visão Trocada | 2006
Visão trocada: São Paulo / Berlin 2004
Projeto Sonia Guggisberg
Galeria Olido, São Paulo, SP.
São Paulo: Adriana Rocha, Denise Adams, Edith Derdyk, Pazé, Sonia Guggisberg
Berlim: Christine Kriegerowsky, Nada Sebestyén, Nino Resende, Paulo Boer, Susanne Albrecht
Esta exposição propõe um campo de experimentação de linguagens e culturas, possibilitando a convivência de poéticas distintas de artistas convidados de São Paulo e Berlim.
Adriana Rocha
Denise Adams
Edith Derdyk
Pazé
Sonia Guggisberg
Five artists Adriana Rocha, Denise Adams, Nino Rezende, Pazé and Sonia Guggisberg set themselves the challenge of randomly exchanging works to be uses as motifs for new ones. This led to the Visão Trocada exhibition being held to show the outcome of the experiment.
All the artists were free to choose which works they would give the others, or do work especially for this purpose. Curiously, we find that all of them used photographs as points of departure, perhaps due to their convenience with the spread of digital imaging.
Photographer Denise Adams selected studies of photographs of miniatures taken from 1998 to 2003 and Sonia Guggisberg took them as her theme. Sonia’s photographs of facades of colorful but ordinary houses with lots of elements showing disorganization and accumulation, such as a garbage bin near a clothes line, were the inspiration for Pazé. He had contributed photos from one of his projects prior to 2001 in which a dummy resembling him was placed in strategic spots in São Paulo, in the Old Center, which became the reference for Adriana Rocha's work. The draw gave Nino Rezende Adriana's photomontage based on landscapes she had photographed on journeys to Sete Povos das Missões and Lençóis Maranhenses. Three photographs from a set of works on Nino’s everyday life, conceived when he was living in Berlin from 2000 to 2001, became the proposal for Denise Adams' work.
Os artistas Adriana Rocha, Denise Adams, Nino Rezende, Pazé e Sonia Guggisberg se propuseram um desafio: trocar aleatoriamente entre si seus trabalhos, de modo que servissem de mote para a realização de novas obras. Essa atitude resultou na exposição Visão Trocada, na qual os artistas mostram os reflexos dessa experiência.
Cada artista teve a liberdade de escolher que trabalho gostaria de ceder para o outro, realizado ou não especialmente para esse fim. Por isso, é curioso notar que, entre suas produções, todos elegeram obras fotográficas como ponto de partida: talvez isso se deva à facilidade de intercâmbio que a fotografia possibilita atualmente com a disseminação da imagem digital.
A fotógrafa Denise Adams selecionou estudos de fotografias de miniaturas, realizadas entre 1998 e 2003, que se tornaram o tema da obra de Sonia Guggisberg. Sonia fotografou a parte frontal de casas humildes e coloridas, repletas de elementos que revelam desorganização/acúmulo, como o cesto de lixo próximo ao varal de roupas. Esse trabalho serviu de inspiração para o artista Pazé que, por sua vez, escolheu algumas fotografias que integraram um de seus projetos de 2001. São imagens de um boneco, feito a sua semelhança, posicionado em locais estratégicos do Centro Velho de São Paulo, referência para a obra de Adriana Rocha. Já a fotomontagem que Adriana fez, a partir de fotografias de paisagens que tirou em viagens a Sete Povos das Missões e Lençóis Maranhenses, foi sorteada para Nino Rezende. E as três fotografias que compõem um conjunto de obras concebidas por Nino, entre 2000 e 2001, sobre seu cotidiano quando residida em Berlim, tornaram-se a proposta do trabalho de Denise Adams.
As part of this process, we might wonder how freedom of choice - in the sense that the artists were free to select which work they would give the others and what others selected from that work - affected the outcome of the exhibition.
Various possibilities were open to them - turning away from the proposal they had been given, or - on the contrary- immersing themselves in it, or again totally transforming it. But one point that emerged very clearly was the emphasis on the poetics of the other. Some elements of works were used as the basis for "exchanging glances" by the artists that absorbed them and emphasized certain features depending on their gaze / selection: Denise Adams' miniatures are seen in Sonia Guggisberg's work, which inverts both the scale of Adams' work and her original photographic support (using transparent plastic instead of paper). Pazé took the ordinary houses photographed by Sonia and rebuilt them for the exhibition, almost totally true to the originals, to reinforce the notion of urban landscape in her photos. An interesting point is that one of the "houses" has a small window with a view onto Avenida São João, in an allusion to the exhibition's surroundings. Pazé's dummy (a kind of replica of him, let us recall) was used as painting and photo-print in Adriana Rocha's work, thus emphasizing the notion of self-portrait from Pazé's work. Nino Rezende multiplied the landscapes photographed by Adriana to compile a photographic travel log of landscapes and people from places - the south of Minas Gerais, Bahia, Camburi and Berlin - where he has lived, or is currently living. One of Nino's photographs (taken from the balcony of his house in Berlin) is clearly shown in Denise Adams' video based on the idea of cycle (freezing and thawing).
This movement based on the glance and its perception of the other comprises the identity of the exhibition, based on individual proposals but not characterized as such since it is created by a fusion of poetics.
Daniela Maura Ribeiro
Nesse processo, cabe refletir sobre como a seleção livre — que obra um artista seleciona para o outro e o que o outro seleciona daquela obra — irá influir no resultado da exposição.
Entre possibilidades como o afastamento da proposta alheia, o inverso — a imersão — ou, ainda, a completa transformação, o que emergiu, de modo muito claro, foi a ênfase na poética do outro. Reconhecem-se alguns elementos dos trabalhos que serviram de base para a “visão trocada” dos artistas que os absorveram e enfatizaram, segundo seu olhar/seleção: as miniaturas de Denise Adams estão presentes na obra de Sonia Guggisberg, que inverte tanto a escala presente no trabalho de Adams, quanto o suporte fotográfico (de papel para adesivo sobre plástico transparente). As casas humildes, fotografadas por Sonia, foram construídas na exposição, de maneira quase fiel, por Pazé, reforçando a noção de paisagem urbana, contida nas fotos. Detalhe: uma das “casas” possui uma pequena janela que oferece vista para a Av. São João, em uma menção à paisagem do entorno da mostra. O boneco de Pazé (lembre-se, uma espécie de réplica do artista) figura como pintura e como plotagem no trabalho de Adriana Rocha, ressaltando a idéia de auto-retrato, presente em Pazé. As paisagens fotografadas por Adriana se multiplicam na obra de Nino Rezende, que criou um diário de viagens fotográfico composto pelo registro de paisagens e também de pessoas em locais como o sul de Minas Gerais, Bahia, Camburi e Berlim, nos quais Nino viveu ou vive. E uma das fotografias de Nino (a do terraço de sua casa em Berlim) aparece nitidamente no vídeo de Denise Adams, pautado na idéia de ciclo (neve e degelo).
Essa movimentação, a partir do olhar sobre o outro, irá compor a identidade da mostra. Uma identidade que parte de propostas individuais, mas que não se caracteriza como individual, considerando que se forma com a fusão de poéticas.
Daniela Maura Ribeiro
Five artists Adriana Rocha, Denise Adams, Nino Rezende, Pazé and Sonia Guggisberg set themselves the challenge of randomly exchanging works to be uses as motifs for new ones. This led to the Visão Trocada exhibition being held to show the outcome of the experiment.
All the artists were free to choose which works they would give the others, or do work especially for this purpose. Curiously, we find that all of them used photographs as points of departure, perhaps due to their convenience with the spread of digital imaging.
Photographer Denise Adams selected studies of photographs of miniatures taken from 1998 to 2003 and Sonia Guggisberg took them as her theme. Sonia’s photographs of facades of colorful but ordinary houses with lots of elements showing disorganization and accumulation, such as a garbage bin near a clothes line, were the inspiration for Pazé. He had contributed photos from one of his projects prior to 2001 in which a dummy resembling him was placed in strategic spots in São Paulo, in the Old Center, which became the reference for Adriana Rocha's work. The draw gave Nino Rezende Adriana's photomontage based on landscapes she had photographed on journeys to Sete Povos das Missões and Lençóis Maranhenses. Three photographs from a set of works on Nino’s everyday life, conceived when he was living in Berlin from 2000 to 2001, became the proposal for Denise Adams' work.
As part of this process, we might wonder how freedom of choice - in the sense that the artists were free to select which work they would give the others and what others selected from that work - affected the outcome of the exhibition.
Various possibilities were open to them - turning away from the proposal they had been given, or - on the contrary- immersing themselves in it, or again totally transforming it. But one point that emerged very clearly was the emphasis on the poetics of the other. Some elements of works were used as the basis for "exchanging glances" by the artists that absorbed them and emphasized certain features depending on their gaze / selection: Denise Adams' miniatures are seen in Sonia Guggisberg's work, which inverts both the scale of Adams' work and her original photographic support (using transparent plastic instead of paper). Pazé took the ordinary houses photographed by Sonia and rebuilt them for the exhibition, almost totally true to the originals, to reinforce the notion of urban landscape in her photos. An interesting point is that one of the "houses" has a small window with a view onto Avenida São João, in an allusion to the exhibition's surroundings. Pazé's dummy (a kind of replica of him, let us recall) was used as painting and photo-print in Adriana Rocha's work, thus emphasizing the notion of self-portrait from Pazé's work. Nino Rezende multiplied the landscapes photographed by Adriana to compile a photographic travel log of landscapes and people from places - the south of Minas Gerais, Bahia, Camburi and Berlin - where he has lived, or is currently living. One of Nino's photographs (taken from the balcony of his house in Berlin) is clearly shown in Denise Adams' video based on the idea of cycle (freezing and thawing).
This movement based on the glance and its perception of the other comprises the identity of the exhibition, based on individual proposals but not characterized as such since it is created by a fusion of poetics.
Daniela Maura Ribeiro
Os artistas Adriana Rocha, Denise Adams, Nino Rezende, Pazé e Sonia Guggisberg se propuseram um desafio: trocar aleatoriamente entre si seus trabalhos, de modo que servissem de mote para a realização de novas obras. Essa atitude resultou na exposição Visão Trocada, na qual os artistas mostram os reflexos dessa experiência.
Cada artista teve a liberdade de escolher que trabalho gostaria de ceder para o outro, realizado ou não especialmente para esse fim. Por isso, é curioso notar que, entre suas produções, todos elegeram obras fotográficas como ponto de partida: talvez isso se deva à facilidade de intercâmbio que a fotografia possibilita atualmente com a disseminação da imagem digital.
A fotógrafa Denise Adams selecionou estudos de fotografias de miniaturas, realizadas entre 1998 e 2003, que se tornaram o tema da obra de Sonia Guggisberg. Sonia fotografou a parte frontal de casas humildes e coloridas, repletas de elementos que revelam desorganização/acúmulo, como o cesto de lixo próximo ao varal de roupas. Esse trabalho serviu de inspiração para o artista Pazé que, por sua vez, escolheu algumas fotografias que integraram um de seus projetos de 2001. São imagens de um boneco, feito a sua semelhança, posicionado em locais estratégicos do Centro Velho de São Paulo, referência para a obra de Adriana Rocha. Já a fotomontagem que Adriana fez, a partir de fotografias de paisagens que tirou em viagens a Sete Povos das Missões e Lençóis Maranhenses, foi sorteada para Nino Rezende. E as três fotografias que compõem um conjunto de obras concebidas por Nino, entre 2000 e 2001, sobre seu cotidiano quando residida em Berlim, tornaram-se a proposta do trabalho de Denise Adams.
Nesse processo, cabe refletir sobre como a seleção livre — que obra um artista seleciona para o outro e o que o outro seleciona daquela obra — irá influir no resultado da exposição.
Entre possibilidades como o afastamento da proposta alheia, o inverso — a imersão — ou, ainda, a completa transformação, o que emergiu, de modo muito claro, foi a ênfase na poética do outro. Reconhecem-se alguns elementos dos trabalhos que serviram de base para a “visão trocada” dos artistas que os absorveram e enfatizaram, segundo seu olhar/seleção: as miniaturas de Denise Adams estão presentes na obra de Sonia Guggisberg, que inverte tanto a escala presente no trabalho de Adams, quanto o suporte fotográfico (de papel para adesivo sobre plástico transparente). As casas humildes, fotografadas por Sonia, foram construídas na exposição, de maneira quase fiel, por Pazé, reforçando a noção de paisagem urbana, contida nas fotos. Detalhe: uma das “casas” possui uma pequena janela que oferece vista para a Av. São João, em uma menção à paisagem do entorno da mostra. O boneco de Pazé (lembre-se, uma espécie de réplica do artista) figura como pintura e como plotagem no trabalho de Adriana Rocha, ressaltando a idéia de auto-retrato, presente em Pazé. As paisagens fotografadas por Adriana se multiplicam na obra de Nino Rezende, que criou um diário de viagens fotográfico composto pelo registro de paisagens e também de pessoas em locais como o sul de Minas Gerais, Bahia, Camburi e Berlim, nos quais Nino viveu ou vive. E uma das fotografias de Nino (a do terraço de sua casa em Berlim) aparece nitidamente no vídeo de Denise Adams, pautado na idéia de ciclo (neve e degelo).
Essa movimentação, a partir do olhar sobre o outro, irá compor a identidade da mostra. Uma identidade que parte de propostas individuais, mas que não se caracteriza como individual, considerando que se forma com a fusão de poéticas.
Daniela Maura Ribeiro